data-filename="retriever" style="width: 100%;">Num tempo contemporâneo, identificado pelos sociólogos como o de uma sociedade líquida e fugaz, a própria informação é instantaneamente substituída por novas notícias, sem que tenhamos tempo para reflexões e criticidade. Morte de celebridades, escândalos financeiros, disputas políticas, insultos e ataques públicos, julgamentos e debates, manchetes que passam como um furacão, com as quais somos diariamente bombardeados, afetando a tudo e a todos e provocando uma verdadeira exaustão intelectual.
A vida "real" e mesmo a vida "inventada" que acompanhamos de forma instantânea pela internet acarreta numa cegueira para questões importantes e sérias, como àquelas que dizem respeito ao nosso maior tesouro: nossas crianças.
Enquanto nos envolvemos com tantos outros temas, nossas crianças estão sendo literalmente torturadas e assassinadas no local em que deveriam estar mais seguras e exatamente por aqueles que as deveriam proteger. Diariamente, vem à público história de maus-tratos, estupro, abandono e assassinato de vítimas das mais tenras idades. Se num primeiro momento a divulgação dos fatos nos aterroriza, a verdade é que eles são esquecidos quase que instantaneamente, sendo substituídos por novidades midiáticas, ainda que em áreas totalmente distintas.
Alguns casos ganham maior espaço e repercussão, normalmente por advirem de classes sociais privilegiadas. É o que aconteceu com a história de Isabella Nardoni, morta em 2008, aos 5 anos de idade, na residência paterna. Tal fato ganhou notoriedade e repulsa social, a ponto de haver um envolvimento público que perdura até mesmo nos dias de hoje, quando ainda existe interesse pelo destino de seus algozes. Mais recentemente, em 2014, o caso Bernardo Boldrini, assassinado aos 11 anos, mobilizou a sociedade brasileira, sendo que o fato foi tão relevante a ponto de o nome da vítima ser usado como identificação de uma lei específica contra a violência na educação familiar.
Nos últimos tempos, novas histórias vêm sendo divulgadas, todas culminando em assassinatos, antecedidos de episódios de torturas que se prolongam dentro do lar. Vítimas assassinadas pelos seus familiares como Sara Yasmin, aos 10 anos, Rhuan, aos 9 anos, Sabrina e Mel, aos 6 anos, Mikael, Suryanni e Mateus, aos 5 anos, Pedro Henrique, Mikaelly e Pyetra aos 3 anos e Ícaro, morto com um 1 de idade, passaram recentemente em nossas telas de celulares e computadores e não lhe damos a importância devida, ainda que num primeiro momento tenhamos ficado sensibilizados.
Essa divulgação não pode simplesmente ser objeto de revolta e repulsa momentâneas, pois são fatos merecedores de uma grande reflexão e mobilização social. Mais de que um dever legal de proteção por parte da família, sociedade e Estado, nosso combate e mobilização preventiva contra crimes dessa natureza representam a própria sobrevivência de nossa espécie, a preservação de nossa dignidade humana e um símbolo de nossa civilidade.